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De 2011 a 2022, setor cultural ganha empresas, mas perde participação na economia

Fonte e foto: agência IBGE

Em uma década, o número de empresas do setor cultural cresceu 3,1%, chegando a 387,5 mil em 2021. Em comparação, no mesmo período, o total de organizações do país aumentou 12,1%. Isso explica a perda de participação das atividades culturais no total de empresas do país, passando de 7,3% em 2011 para 6,7% em 2021. Os dados fazem parte do Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC) 2011-2022 e foram divulgados hoje pelo IBGE (1º). Além de dados sobre o mercado de trabalho e investimentos na área, o estudo traz informações sobre o acesso da população a equipamentos culturais.

Em 2021, mais de três quartos dos 2,1 milhões de pessoas ocupadas no setor cultural (75,7%) eram assalariados. Os salários pagos somaram R$ 83,3 bilhões, o que equivale a um salário médio mensal de R$ 4.135. É um número 26,6% superior à média dos salários levantados pelo Cadastro Central de Empresas (Cempre), uma das fontes do estudo. “A maior remuneração é explicada pelo fato de o setor cultural ter mais pessoas com nível superior e, de maneira geral, com mais qualificação em relação ao total dos setores”, comenta o analista da pesquisa, Leonardo Athias.

A publicação utiliza uma classificação da Unesco, que divide as atividades culturais em centrais (em que há oito tipos) e periféricas (equipamentos e materiais de apoio). “Os domínios centrais estão mais ligados ao que entendemos de maneira mais específica como cultura, enquanto os periféricos são mais de apoio, como fabricação e comércio de equipamentos, telecomunicações, que também são necessários para a fruição cultural”, explica o pesquisador.  

Em 2021, as atividades periféricas ocupavam 51,9% dos assalariados. Já as atividades centrais foram as que mais contribuíram para o aumento de 3,1% no número de empresas, desde 2011, concentrando 66,3% em 2021. A atividade de Design e serviços criativos foi a que mais cresceu no período, ganhando 53,8 mil novas empresas. Outros aumentos significativos foram registrados em Mídias audiovisuais e interativas (11,8 mil unidades) e Educação e Capacitação (2,2 mil). Nas outras atividades, o número de empresas caiu, com destaque para Livro e imprensa (- 25,7 mil).

O segmento de Design e serviços criativos também foi o que mais cresceu em número de pessoas assalariadas, um aumento de 40,8 mil na década. Mas a maior concentração de assalariados das Atividades Centrais estava no setor de Mídias audiovisuais e interativas (32,2%), que também pagava os maiores salários médios (R$4.751). Já os menores eram pagos pelas empresas de Esportes e recreação (R$ 1.808).

Mulheres eram minoria entre assalariados da cultura e recebiam salários menores

Em 2021, as mulheres representavam 43,7% dos assalariados do setor cultural e eram mais presentes nas atividades de Educação e Capacitação (68,2%), Artes visuais e artesanatos (64,5%) e Livro e imprensa (53,1%). Os homens predominavam em Mídias audiovisuais e interativas (62,4%), Equipamentos e materiais de apoio (61,8%) e Apresentações artísticas e celebrações (56,7%).

No setor cultural, as mulheres também receberam salários menores que os homens. Eles ganharam, em média, R$ 4.730,37 ao mês, enquanto elas receberam R$ 3.354,00. Os salários delas eram equivalentes aos dos homens ou um pouco acima em apenas duas atividades analisadas: Patrimônio natural e cultural e Apresentações artísticas e celebrações. Ainda em 2021, cerca de 41,1% dos assalariados de Patrimônio natural e cultural tinham nível superior completo, enquanto em Artes visuais e artesanato, essa proporção era de 9,4%.

Naquele mesmo ano, apenas 38,9% das empresas pertencentes ao setor cultural sobreviveram ao quinto ano de vida. Quando consideradas todas as empresas investigadas no Cempre, essa taxa foi de 41,1%. Entre as atividades do setor cultural, a maior taxa de sobrevivência foi de Educação e Capacitação (48,4%), enquanto a de Esportes e recreação (28,5%) tinha o menor.

De 2011 a 2021, setor cultural perde participação na economia

O estudo trouxe ainda dados da Pesquisa Industrial Anual-Empresa (PIA) Empresa, da Pesquisa Anual de Comércio (PAC) e da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) para entender a importância do setor cultural na economia. Nessas pesquisas estruturais, são selecionadas menos atividades e tipos de empresas do que no Cempre. Nesse contexto, em 2021, foram estimadas 246,8 mil empresas associadas ao setor cultural, que ocupavam 1,8 milhão de pessoas.

As empresas do setor apuraram R$ 740,8 bilhões em receita líquida, ou 5,8% do total gerado por todas as atividades. Houve retração de 2,1 p.p nessa participação entre 2011 e 2021. A participação do setor cultural no valor adicionado (VA) também caiu nessa década: em 2021, foram gerados R$ 287,9 bilhões em VA, ou 8,0% do total. A queda de participação nesse período foi de 2,8 p.p.

De acordo com o estudo, essa queda da participação da cultura no valor adicionado total da economia, de 10,8% para 8,0% na década, teve como marco o período da pandemia de Covid-19. De 2011 a 2019, a participação havia recuado 1,3 p.p. Nos anos seguintes, entre 2019 e 2021, a perda acelerou, com recuo de 1,5 p.p. no período.

As atividades periféricas aumentaram a sua participação no valor adicionado do setor cultural de 64,1% para 67,7% entre 2011 e 2021. A perda da importância das atividades centrais no período se deveu às quedas de participação de domínio Livros e imprensa (-3,1 p.p.) e Mídias audiovisuais e interativas (-1,8 p.p.), domínio que inclui atividades de TV a cabo e aberta, com maiores retrações. O maior aumento veio de Design e serviços criativos (1,0 p.p.), com destaque para agências e atividade de publicidade.

Ainda que mantenham a maior participação no valor adicionado da cultura (13,6%), as Mídias audiovisuais e interativas perderam mais relevância (-0,8 p.p) entre 2019 e 2021, os anos da pandemia. Antes desse período, entre 2011 e 2019, o destaque foi a queda das atividades de Telecomunicações por fio, sem fio e por satélite (-5,4 p.p. de participação no VA cultural).

“De 2019 para 2021, houve ganho em algumas atividades relacionadas à publicidade e à Internet, enquanto as telecomunicações, TV aberta e por assinatura tiveram perda de importância no valor adicionado. Isso indica mudanças de hábitos, como o aumento do streaming e outros tipos de fruição, em relação ao que se tinha antigamente”, analisa Athias.

As atividades de Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador (4,6 p.p.) e Comércio atacadista de equipamentos e produtos de tecnologia de informação e comunicação (3,2p.p.) ampliaram a sua participação no VA Cultural, entre 2011 e 2021.

As que mais se destacaram pela perda de importância nesse período foram Edição e edição integrada à impressão (de 5,1% do VA cultural em 2011 para 2,2% em 2021), Operadoras de televisão por assinatura (-2,6 p.p.) e Atividades de televisão aberta (-1,8 p.p). Por outro lado, os maiores ganhos de participação vieram de provedores de conteúdo e outros serviços de informação na internet (2,2 p.p.) e Outras atividades de telecomunicações (1,5 p.p.).

Em 2022, número de ocupados no setor cultural cresce

De acordo com a PNAD Contínua, havia 5,4 milhões de pessoas trabalhando na cultura em 2022, ou 5,6% da população ocupada do país. Com o impacto da pandemia de Covid-19 nas atividades culturais, o número de postos de trabalho da área caiu, chegando a 4,9 milhões em 2020 e 5,0 milhões em 2021. Foi 2021 o ano em que o setor cultural chegou à menor participação da série histórica na ocupação total do mercado de trabalho (5,5%). Em 2022, com um aumento de cerca de 9,9% no número de ocupados, voltou a um patamar próximo a 2019. Tanto em 2019 quanto em 2022 havia cerca de 5,5 milhões de pessoas trabalhando no setor.  

Desde o início da série histórica do SIIC, em 2014, o nível de instrução dos trabalhadores das atividades culturais era maior que o do total de ocupados. Em 2022, 22,6% dos trabalhadores do país tinham superior completo, enquanto no setor cultural esse número foi de 30,6%. A participação das mulheres no segmento aumentou de 46,4%, em 2014, para 49,5% em 2020, mas caiu nos dois anos seguintes. Em 2022, elas representavam 47,2% do total de trabalhadores.

Proporção de trabalhadores pretos e pardos nas atividades culturais é abaixo da média

A proporção de pretos e pardos entre os trabalhadores das atividades culturais (43,9%) era inferior à proporção deles na população ocupada do país (54,2%) em 2022. Entre 2019 e 2020, houve queda nessas participações.

Os trabalhadores pretos e pardos foram os mais afetados pela pandemia, com a maior perda de postos de trabalho informais, em que eles estavam sobrerepresentados. Ainda que sua participação no setor tenha se recuperado um pouco em 2022, a proporção segue menor que a de 2019 (45,3%).

O trabalhador por conta própria predomina no setor cultural: em 2022, eles representavam 42,1% do total de ocupados do setor, com os empregados do setor privado com carteira (35,9%) e sem carteira (14,4%) a seguir. Em 2022, a proporção de trabalhadores informais no setor cultural era de 43,2%, enquanto na população ocupada do país ela era de 40,9%.

O rendimento médio habitual dos trabalhadores da cultura em 2022 era R$ 2.815, com alta de 9,8% frente a 2014 (já considerada a inflação do período). Esse valor está acima da média dos rendimentos da população ocupada do país no mesmo ano (R$ 2.582), que também subiu 9,8% desde o início da série. No setor cultural, a diferença salarial entre homens e mulheres foi de 23%, já que elas receberam, em média, R$ 2.510, e eles, R$ 3.087.

Sobre o estudo

SIIC (2011-2022) traz informações sobre a ocupação e o número de empresas nas atividades culturais, bem como o valor adicionado dessas atividades. Outros destaques são o Índice de Preços da Cultura (IPCult) e o acesso das famílias aos produtos e serviços culturais. Nesta edição, há dados sobre turismo de lazer e sobre equipamentos e políticas municipais de cultura, com detalhamentos por Grandes Regiões e, em alguns indicadores, por Unidades da Federação e Municípios.

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