Arte sustentável: pesquisa relaciona diversidade biológica e cultural
Fonte e foto: ASCOM/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Unir cultura, sustentabilidade e educação numa única temática com objetos oriundos de recursos naturais provenientes do entorno de um rio na Bahia e dos agentes que o cercam. Esse estudo resultou na dissertação intitulada “A confecção de instrumentos musicais sob a abordagem dos serviços ecossistêmicos da Bacia do Rio Verruga/Ba”. Por meio de frutos, cascas, cipós, sementes, couro, ossos e outros elementos, diferentes atores culturais criaram instrumentos musicais confeccionados na bacia do rio, em Vitória da Conquista.
Do trabalho de músicos, luthier (profissional que constrói e conserta instrumentos musicais de forma artesanal), membros de grupos de Ternos de Reis, mestres de capoeira e ogãs de terreiros, surgiu o objeto principal dessa pesquisa, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Genética, Biodiversidade e Conservação (PPGGBC), campus de Jequié.
De acordo com a pesquisadora, os objetos produzidos (caxixis, agogô, zabumba, caixas de folia, gaitas, flautas, pandeiro, entre outros) mantém viva as tradições por meio da promoção e preservação da biodiversidade local. “Conseguimos alcançar o equilíbrio nas relações entre a diversidade biológica e a diversidade cultural”, afirma, esclarecendo, também, que a pesquisa será divulgada após a publicação do resultado final em periódicos específicos.
Ainda de acordo com Coutinho, “o trabalho se configurou como de suma importância para a região, pois é perceptível a relação entre as atividades culturais e serviços ecossistêmicos com culturas tradicionais e religiosas”. No entanto, ela explica que “a diversidade de serviços ecossistêmicos inerentes à confecção de instrumentos musicais na localidade não se associa a nenhum fator sociocultural ou econômico”.
Como foi feita a pesquisa? – Para desenvolver o trabalho, a autora utilizou recursos para localizar os atores sociais e identificar as categorias por meio de roteiros semiestruturados, seguindo protocolos de classificação internacional. “Optamos por uma técnica denominada ‘bola de neve’, onde cada participante aponta outras pessoas que se enquadrem no contexto da pesquisa. Também realizamos um ranqueamento dos serviços identificados e procedemos com uma análise estatística para demonstrar as associações entre a diversidade de serviços ecossistêmicos da atividade em questão frente à configuração sociocultural e demográfica da bacia do rio Verruga”, explica.
Segundo a pesquisadora, o trabalho só foi possível porque o ecossistema do Rio Verruga apresenta inúmeros benefícios diretos ou indiretos ofertados às populações humanas, que precisam ser reconhecidos e preservados, como aponta os resultados da Avaliação Ecossistêmica do Milênio. “Nossa pesquisa enfocou a música, considerada um serviço ecossistêmico cultural, na perspectiva da confecção dos instrumentos e continuidade de tradições entre gerações”, argumenta.
No entanto, durante a coleta dos dados, ela notou que a perda de referências culturais e a desconexão com o ambiente configuravam riscos à conservação da biodiversidade local. Naquele contexto, já era possível observar e compreender que a bacia do Rio Verruga se encontra num cenário de degradação ambiental.
Diante das implicações negativas que o contexto trazia, não só ao meio ambiente como à população vinculada a ele, a pesquisa se insere num contexto de promover discussões e ações de recuperação e preservação da área. De acordo com a pesquisadora, era necessário “compreender o contexto sociocultural na região e trabalhar na perspectiva de agregar interesses comuns tanto ao setor ambiental quanto ao cultural”, conclui.